“O tempo linear é uma invenção do Ocidente, o tempo não é linear, é um maravilhoso emaranhado onde, a qualquer instante, podem ser escolhidos pontos e inventadas soluções, sem começo nem fim.”
Lina Bo Bardi
EDITORIAL - DEZEMBRO
TERCEYRO MUNDO
Começo meio fim, formas arbitrárias de nomear o tempo.
Somos ensinados a contar, marcar, nomear, delimitar o tempo.
Mas o que é o tempo se não aquilo que fazemos dele e com ele?
É preciso descobrir o tempo.
Não esse, que está aí, o tempo datado do calendário, o tempo do tic tac do relógio, o tempo imposto que diz “a hora certa” de acordar, trabalhar, amar, a hora em que devemos trocar presentes, comprar chocolate, isso ou aquilo.
É preciso descobrir o tempo de.
Um tempo outro.
Quanto tempo se leva para despertar?
Quanto tempo é preciso para se construir um sonho depois que se acorda?
O tempo de uma história é uma coisa curiosa. Na minha cabeça, passado, presente e futuro se confundem, eu sei, eu sei que só existe o agora, mas o português é essa língua maluca que nos faz conjugar o tempo do nunca, da impossibilidade. É que eu Queria. Quisera. Pudera. E o futuro do pretérito então? Que absurdo!
Mas nos atentemos ao tempo que temos agora.
O tempo e o contratempo.
É tudo o que temos, apesar de perdido.
Se eu digo que é preciso descobrir o tempo,
é porque se descobrirmos o tempo,
veremos que as coisas de fora e as coisas de dentro ficam transitáveis.
Que existe hora pra tudo e tempo certo para cada coisa é uma grande mentira. Não existe, mas é preciso inventar, abrir uma brecha e depois alargar, fazer caber, o tempo do nosso desejo. Nosso desejo pode ser qualquer coisa, não está dado.
É preciso Escutar. Perceber. Sentir.
O que você deseja?
Eu quero que você perceba o tempo em que vive,
as palavras que usa,
as imagens que projeta,
os sons que emite,
os sentidos que cria.
O que isso diz sobre nós?
Somos frutos de nosso tempo e também de todo o tempo que já existiu e existirá.
Quanto dura a eternidade se não o segundo em que vivemos?
É preciso aproveitar o momento, o milagre de existirmos juntos, hoje, 30 de dezembro de 2022. Aí está uma coisa que nunca mais vai se repetir. O agora.
Cuidado que o tempo é preciso e precioso. O tempo é também um professor capcioso. Quando entendemos rápido demais, levamos rasteira, era preciso um pouco mais de tempo. Se demoramos demais a entender, perdemos o bonde. Gosto da expressão “timing”. Esse “ing” que faz toda a diferença. Faz com que o tempo se mova - e ele nunca para mesmo. Para acertar o tempo é preciso mover-se junto de, no instante-já. Como a maré em seu incessante movimento de ir e vir…
Em 04 de julho de 2022 nasceu a Terceyro Mundo, confluência do desejo de se apropriar disso que chamamos de literatura, de arte, em suma, da palavra, da imagem, do movimento e suas infinitas possibilidades.
O que queremos?
Queremos tempo para a haverdade, a verdade de tudo o que há no mundo, só por existir. Queremos poder falar do mais de dentro e do mais carnal, ao mais abstrato e etéreo que nos escapa. Queremos brindar a existência única, singular e coletiva, nossa e de cada ser vivente nessa festa chamada existência. E para o tempo que está por vir, está vindo agora mesmo e já está aqui, desejamos uma relação mais honesta e sensível com o tempo. É tempo de, sem amarras, deixar a palavra acontecer.
É Tempo de Tertúlia!
“Na ponta da palavra está a palavra. Quero usar a palavra “tertúlia” e não sei aonde e quando. À beira da tertúlia está a família. À beira da família estou eu. À beira de eu estou mim. É para mim que vou. E de mim saio para ver. Ver o quê? ver o que existe.”
Clarice Lispector
A VOZ DE EXU: UM POEMA PARA SONHAR E FALAR
PEDRO MARTINS
FALAR
F[ÀLÁ]R
ÀLÁ (YORUBÁ) = sonho (PORTUGUÊS)
FALAR = VERBO, A PALAVRA ATUANTE )EXÚ( COMUNICAÇÃO
A pàdé Ọlọ́ọ̀nọ̀n e
Encontramos o senhor dos caminhos
Mo júbà Òjíṣẹ́
Meus respeitos ao mensageiro
Àwa ṣé awo, àwa ṣé awo,
Vamos ao segredo do axé, vamos ao segredo do axé,
Àwa ṣé awo
vamos ao segredo do axé
Mo júbà Òjíṣẹ́!
Meus respeitos ao mensageiro!1
Fale, e o mundo ouvirá.
À voz de Exú, cuja respiração traz vida ao sonho
E cujo verbo cria o que nomeia.
Na terra dos Yorubá,
Falar é o sopro da voz de EXÚ
Sua mutabilidade e movimento,
Guiando-nos através do inconsciente.
Nunca foi Freud, sempre foi Exú.
A palavra é expressão, mutação.
A voz de Exú
Preserva
Destrói e
Recria
O mundo com cada palavra falada.
Então fale, e deixe sua voz ser ouvida
Pois Exú é o sonho
e Exú é o verbo
Trazendo clareza, orientação e propósito
Para todos os que procuram o seu conselho.
Exú na encruzilhada faz seu mercado,
Onde o passado e o presente se cruzam,
E os caminhos do futuro são revelados.
Seus pés estão plantados firmemente
No caminho dos ancestrais.
Com seu ogó2 na junção dos mundos,
revela os segredos do universo,
Mostrando-nos o caminho a seguir,
Rumo a um amanhã mais brilhante.
De cabeça erguida,
Você examina o horizonte,
Cuidando de todos que passam
Pelas portas do mundo.
Então fale, e deixe sua voz ser ouvida,
Pois Exú está aqui para nos guiar,
Ajudando-nos a encontrar o nosso caminho,
E navegar pelas voltas e reviravoltas da vida.
Pois a cada palavra que falamos,
Nós moldamos nosso próprio destino,
Criando o mundo que queremos ver,
Com Exú, e nossa própria determinação.
Exú, deus da comunicação,
Nós te honramos e agradecemos
Por tudo o que você nos deu,
Por tudo o que você nos mostrou.
EXÚ É SONHO
EXÚ É VERBO
“olho muito tempo o corpo de um poema
até perder de vista o que não seja corpo
e sentir separado dentre os dentes
um filete de sangue
nas gengivas”
Ana Cristina Cesar
Tudo vira angústia no vórtice da loucura
EDIMARA ARCANJO
autoria
escrever
vou escrever isso quando chegar em casa
antes que tudo se dissipe e se cale
sufocada por outras narrativas
que tentam inscrever-se em por cima da minha
preciso constantemente me lembrar quem é a autora desse texto
ou melhor
esquecer
esquecer e aceitar perder
pois invariavelmente, palavra é perda
e eu as perco sempre
enquanto também eu
me perco toda para me ganhar.
Tudo vira angústia no vórtice da loucura, um texto sobre como tirar os pingos dos is.
Falo com minha gata acerca dos problemas da vida humana, ela se deita e me olha já fechando os olhos.
Sinto que perdi de vez o senso de normalidade com o qual sempre me recobri para que não vissem sabe-se lá o que, a tal da verdade escondida, o “verdadeiro eu mesmo”.
Confessa, confessa!
Menti, menti sim, era tudo mentira!.
Posso até pedir desculpas para não ser crucificada, mas não me arrependo,
é que não posso perder o fio da meada com preocupações estilísticas
ou algum valor estético qualquer inventado pra disfarçar a verdade escondida em toda mentira
e também porque tudo isso não passa de uma grande ciranda para que minhas loucuras possam dançar e gritar enquanto giram insistentemente em torno de alguma entidade
ser místico
in compreendida
caco de memória
ruído ou.
Me perco, me perco muitas vezes, entro em processos de simbiose com a palavra alheia, com a palavra minha.
Sim, deve de ter aqui alguma coisa, alma, massa cinzenta, algum punzinho que anima essa carne que pensa, que vive, que age. Parem já com esse negócio de supremacia cerebral! Minha boca olha, meus olhos cantam, meus ouvidos sussurram e meus dedos choram a substância viva, agora morta, que marca o papel, o espaço vazio, eu rasgo e dissolvo.
Me esvazio de tal forma que já não lembro o sentimento importantíssimo, portanto, nada mais que banal, que me motivou a escrever esse texto sem pé nem cabeça.
Sou apenas pseudópodes tentando englobar qualquer sentido que se preste a fazer sentido.
Grandíssima teoria neurótica.
Perdi o senso de normalidade, tudo me é estranho, não sei como reagir ao mais trivial dos acontecimentos.
Comer uma grande dor de cabeça; dormir o medo da morte; perder as chaves dentro do bolso. Eu não sei ser humano e talvez essa seja a coisa mais humana de todas. Mas quem disse que eu quero ser humana? Me tornei não sei que tipo de ser, toda feita de angústia e liberdade.
“Deslizo,
oculto aqui,
vigiando o oco do tempo.”
Waly Salomão
A CIÊNCIA DO QUE NÃO EXISTE (trechos)
SARA SÍNTIQUE
risco
risco
cotovelos pés riso
alinho desalinho
contornos acidentais
porque toda
evidência é
duvidosa e
conhecer
é sempre
um desvio
como se
nada
você sabe
você sabe
esquecer a
embarcação
mas vem
dança aqui
na margem
na beira
porque se
teima
porque se
é tarde
por que poupar a memória se
duas linhas paralelas ora se
desejam e forjam tantos
pontos de cruzo
chegar a um lugar
onde se escreve
isto é
ambivalência
um corte
um método
uma seta
uma queda
mecanismo
montagem
a cor fascinada
de todo poema
“Há tempo de matar e tempo de curar”
Mário Cesariny
SOU PALAVRAS
MARCELO NASCIMENTO
Meu corpo é feito de carne, excremento, rejeitos, fezes, gases, átomos, deuses, alma, sexo, caos, universo, partículas, redomas, demônios, amor, liberdade, prisão, prosa, metáforas, ossos, epiderme, esperma e poesia.
Sou o corpo que me habita, sou além do corpo que hábito.
Sou isso e aquilo, sou isto.
O nada. O tudo. O que nem eu, nem os livros sagrados sabem, nem jamais saberão; quem sou eu.
Quem sou? Eu.
A egotrip, o deus e o diabo de mim.
O meu eu salvador.
Palavras, palavras, lavras de sentimentos que correm em minhas veias.
Saem pelo meu pau, pelas minhas narinas.
Te faço um filho: te dou poesia.
Te dou orgasmo: espalho poesia.
Te cheiro o corpo: roubo poesia.
Sou o louco, o profeta, o subproduto de rock sem rool, sem sex and drugs, sou o tal subpoeta. Descanso e enlouqueço na casa dos homens, estou quieto feito uma grande explosão. Explodo e ardo feito um lapso do futuro, presente, passado.
Sou o que ainda está, nunca finda, o inacabado que jamais acaba.
Palavras, palavras não são só palavras
São vidas e mortes dentro de mim
Feito sangue de um deus pagão
Com completa adoração as palavras e suas significações
Suas navalhas, unguentos milagrosos, perigosos e todas as poesias usadas e inexploradas.
“O tempo parecia pouco,
e a gente se parecia muito.”
Paulo Leminski
LATENTE
ALANNA FERNANDES
Sensação Impreenchível
A tal sensação impreenchível
Assola-isola
Meu eu do mundo palpável
Do mundo visível
A tal sensação impreenchível
Que poderia até se transbordar
Não fosse suas escolhas infundadas-descabidas
Perdidas-prendidas
Não consigo conceber crível
Teu não insensível
Quando sei-sinto que quer um sim
Só pra mim e pra ti perceptível
Pro resto do mundo
Não passo de uma amiga distante
Irrelevante-invisível
Eu Queria
Eu queria que o tempo parasse
Que você não precisasse ir
Eu queria que o tempo parasse
E que eu não precisasse dormir
Eu queria que o tempo parasse
E que a distância acabasse
Queria que a sua voz
No pé do meu ouvido me acalmasse
Eu queria dar um jeito
De mudar o rumo da vida
O prumo dos caminhos e descaminhos
Que escancaram a falta sentida
Mas eu suspeito
Que esse pedacinho estreito
Que sobrou de falta em meu peito
Seja logo tomado
Seja logo preenchido
Por sua presença imaterial aqui
E por tudo que eu tenho sentido
“(…) o tempo é hoje, vai até a CASA DO GRANDE OBSCURO, entra, lá tens adeptos, os de dentro te esperam, és um emissário graduado, veste a roupa ouro-canário deixada mais adiante, apressa-te, a cada minuto o tempo se adelgaça.”
Hilda Hilst
experimento 2, palavra em livre associação
BIA RODRIGUES
apressada é a dança
do tempo
a rota entre o balanço
e os gargalos
ordena trajetória
sur le mar
relógio
As coisas são
As coisas vêm
As coisas vão
As coisas
Vão e vêm
Não em vão
As horas
Vão e vêm
Não em vão
Oswald de Andrade
SEPENTEAR
ECLÊ GOMES
XXVII
gosto de intensidades
é banal?
faz parte do trabalho registrar o óbvio
por exemplo:
cabe senso instintivo supersônico e sentimento de sexo
eletricidade corpo primavera
terraço peixe no aquário
vento sonho das cabras fauno copo de refresco gelado
dias e mais dias perigo sintonização farpada
súbita tendência roubo de frutas um coração batendo
ouvido no chão verão abrir caminho por dentro
brutalidade doçura laranjas
porque eu queria
pressentir mudança de tempo
há coisa no ar
o corpo avisa que virá algo novo
no mistério está contido o inexplicável da natureza
XXXV
entorpecido e dormente
como depois do amor
tinha resolvido dormir
para sonhar novidades
sonhei uma coisa
um filme
um homem que imitava
artista de cinema
uma instituição
aeromoças desidratadas
água leite
um filme de pessoas automáticas
que sabem que são automáticas
e que não há escapatória
o mundo se fez sozinho?
onde?
em que lugar?
como começou?
estou sendo
e ao mesmo tempo
me fazendo
por esta ausência de resposta
fico tão atrapalhado
serpentear
é segredo
o futuro
que foi ontem
que reside no presente
do passado
que te fizeram acreditar
inalcançável
como o amanhã
que nunca chega
já aconteceu!
nós estamos te falando
agora
que descobrimos o tempo
e mais
como acertar o alvo ontem
com uma flecha lançada
hoje
não há mistérios
a boca do mundo
que tudo come
é o tempo
enfant terrible
faminto
a serpentear
“E o Tempo? Tudo recomeça, não há um absoluto. Depois, é preciso comer ou descomer, tudo volta a entrar em crise. O desejo a cada tantas horas, nunca demasiado diferente e toda vez outra coisa: armadilha do tempo para criar ilusões.”
Julio Cortázar
SUDACA
DIEGO PEREZ
mamilahpinatapai
- Já esteve no espaço?, lhe perguntou, onde a insignificância humana é punida com radiação, frio ou calor imensurável? Onde tempestades intermináveis de ácido, ausência de oxigênio ou gravidade avassaladora são indiferentes à existência da vida?
E mesmo assim, quando se está à beira do mundo, o natural impulso de mergulhar na eternidade dessa vastidão é tão intenso quanto a quente covardia de te olhar nos olhos.
Married Girl
De fato, terminou alguns anos depois, com três socos na boca e um corno convicto. Mas naquela quarta um pouco nublada, nos casamos num supermercado.
Ela, com seu buquê de alface e sorriso nos olhos; eu, com meus votos numa lata de atum.
No altar de frios, ainda que não fosse permitido (lícito, talvez), beijei-a ternamente, selando aquele pacto cotidiano.
.
3 socos.
Eu caí.
Ela completou: “seu filho da puta!”
Eu sorri.
Delírio
Em 10 de dezembro de 1561 o digno senhor Álvaro Solares se surpreendeu ao abrir, durante o seu expediente, uma das cartas mais ousadas não apenas que o funcionário real veria em vida, mas de toda a História.
"Por cierto lo tengo que van pocos reyes al infierno, porque sois pocos; que si muchos fuésedes; ninguno podría ir al cielo, porque creo allá seríades peores que Lucifer”, dizia a epístola dirigida ao Rei Felipe II por um tal Lope de Aguirre, autoproclamado “Príncipe de la Tierra Firme y Perú y Gobernador de Chile” e que ofendia ao rei espanhol com todo o seu ser.
Ramírez, de tanto espanto, não pôde nem terminar a carta. Pôs-se a correr pelos corredores da partição pública, pelas ruas de Madrid e pelas vias de acesso ao castelo ainda que tal urgência não fosse realmente necessária: morto pelas mãos de seus próprios companheiros 2 meses antes que o pobre funcionário pudesse colocar os olhos naquela diatribe, o delirante Lope de Aguirre fez juz as últimas palavras de sua virulenta afronta ao escolhido por deus: “yo, rebelde hasta la muerte.”
Cólera
No dia 4 de julho de 1916 Quindinho não pôde mais suportar a humilhação. Queria vingança. Saiu cedo do expediente. Falou para o capitão que não se sentia bem, o que não era de todo mentira. Passou em casa, pegou a herdada Smith and Wesson, calibre 32, e escreveu o poema "Paz" em referência ao sentimento que sentiria após tirar a vida do assassino de seu pai.
Às 13:30, no Cartório do 2º Ofício da 1ª Vara de Órfãos da então capital da República, morria Euclides da Cunha Filho. Testemunhas disseram que junto aos últimos suspiros do rapaz saia um som seco de sua boca, como se declamasse uma oração.
“Tempo, tempo, tempo, tempo
Portanto, peço-te aquilo
E te ofereço elogios
Tempo, tempo, tempo, tempo
Nas rimas do meu estilo
Tempo, tempo, tempo, tempo”
Caetano Veloso
SONHAR-ESCREVER-HASTEAR
COLETIVAZONA
NOTA: COLETIVAZONA é um coletivo criado em território do Sesc Pinheiros em São Paulo no ano de 2022 em decorrência da oficina Sonhar-Escrever-Hastear, parte do Festa! – Festival de Aprender –, sob guiança do artista e pesquisador interdisciplinar Francisco Mallmann. Nove artistas desenvolvem trabalhos que lidam com sonhos, cicatrizes abertas e instantes decisivos, compondo a dezoito mãos desejos, devaneios e desabafos de cabeças inquietas; com o sonho de ocupar espaços com poesia.
FAZEM PARTE DA ZONA: Clarice, Diogo Leme, Francisco Mallmann, Glória Maciel, Mari Williams, Mauro Pucci, Nathalia Souto, Pedro Martins, Pietra Carvalho.
ZONA
1.
Área ou espaço com propósito de ser a razão de ser. Razão de estar com o corpo presente – a percepção prolífica do agora com o sonho de amolecer nossos medos.
Nossa proposição é o diálogo. F[ÀLÁ]R.
Espaço de instantes decisivos, do conflito que passa de olhar por olhar. A dobra do discreto, secreto. O anúncio que declama a persuasão e a sedução.
Flechas cravadas em pedras esféricas.
A terra terna que se estende nos sentidos paralelos da superfície determinadas pela linha do equador, pelos trópicos. Que se estende nos sentidos do olhar atento.
Zona fértil de uma dissolução sonhadora.
Região de uma superfície de revolução delimitada por vazios plenos, perpendiculares ao eixo de um experimento coletivo, de análise comunitária.
Faixa, marca ou sinal que te convida a se perder.
2.
Espaço, região que não se delimita; DELIRIUM AMBULATORIUM.
Extensão de terreno ou território dotado de sentidos que nos convidam a sonhar.
Sonha comigo?
Área, faixa ou parte de uma cicatriz aberta.
Terreno, território ou localidade na qual se desenvolvem solventes.
Parte de uma avenida vazia, com limites mais ou menos precisos, ponto e vírgula na esquina da Rua do desejo.
Desenvolver proposições na zona das palavras.
Propor inversões dos modos de escrever, ouvir e falar.
Criar ações relacionais que proporcionam experiências coletivas.
Desfazer para refazer, reconstruir.
Repensar as fronteiras.
CTRL Z - C/Z
"Por afrontamento do desejo
insisto na maldade de escrever"
Ana Cristina Cesar
RODA: notas do abismo no fim do mundo (trecho)
YURI COSTA
Você deve começar.
Começar o quê?
A única coisa no mundo que vale começar.
O fim do mundo, porra!
(Aimé que disse)
(...)
É preciso a petulância do Sol, que carrego em minha pele.
Da Estrela, são necessários os sonhos e as águas.
E acima de tudo, mona, é preciso meter o Louco.
O Louco na beira, a lançar-se ao abismo - ao lodo opaco donde fervilha a possibilidade de vida contra a aniquilação imposta e atualizada na reencenação da colonialidade. Na avenida da fuga - a rua pela vida - BAIXADA em ato de rebelião.
(...)
Mergulho. Mas não estou só.
“explicar com palavras deste mundo
que partiu de mim um barco levando-me”
Alejandra Pizarnik
Fim da Transmissão!
TERCEYRO MUNDO
30 de Dezembro de 2022
COLABORAM COM ESTA EDIÇÃO:
Escritores/as:
Alanna Fernandes | Bia Rodrigues | ColetivaZona | Diego Perez | Eclê Gomes | Edimara Arcanjo | Marcelo Nascimento | Pedro Martins | Sara Síntique | Yuri Costa
Edição e Curadoria: Eclê Gomes
Artes Gráficas/Digitais: Pedro Martins
Realização: Terceyro Mundo
Revista Cultural de Arte e Literatura
ISSN: 2764-9016
E-mail: terceyromundoeditorial@gmail.com
Cantiga dedicada ao orixá Exu em candomblés de origens iorubanas.
Ogó é o cajado ou bengala de EXÚ, possui formato fálico, feito de madeira e cabaças que fazem referência a anatomia do pênis e simboliza seu poder concentrador e semeador. Tal qual seu portador, o ogó é multimídia e multiplataformas, possuindo imensos poderes. CHAGAS, Filipe. Falo Magazine, ed.10, 2019.