…ah, e nem ao menos quero que me seja explicado aquilo que para ser explicado teria que sair de si mesmo. não quero que me seja explicado o que de novo precisaria da validação humana para ser interpretado….
EU QUERO UMA VERDADE INVENTADA
[um dia serei poeta, ou pelo menos um bom ladrão de palavras, ou quem sabe um compositor, um feiticeiro leitor de ilusões... quem sabe... por hora é tudo busca e êxtase para começar e não acabar mais]
[o poema ganha se imaginarmos que é uma manifestação de um anseio, não a história de um fato. sei que já estava apaixonado. suspeito que estou herdando a vida de alguém, as alegrias e os sofrimentos, os erros e os acertos. estou enfeitiçado]
sábado, chuva, palavras, começos,
faça disso o que quiser,
…não me importo com fronteiras
embora as fronteiras se importem comigo…
render-se ao poema, escrever, não escrever, escrever sem saber, sem escrever, fundar, o que quer que seja, sem censura, com loucura, começar uma verdade inventada, amar, sem censura, ir ao encontro do poema, da palavra, querer, fazer o que quiser, quando quiser, onde quiser, como quiser, ser chuva, poesia, render-se ao desejo, imaginar, sem censura, a loucura, a cura, escrever você nas entrelinhas, no entremeio, por meios que não justificam os fins, querer por querer, pelo simples prazer, combinar palavras, trançar sentidos, transar delírios, comer desejos, render-se ao poema, às palavras, aos começos, à invenção de si, do mundo, da coisa sem nome, enquanto chove lá fora, aqui, agora, a vontade,
faça disso o que quiser,
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…essa hora e eu com vontade de ser trouxa. quem tomou essa decisão de copiar e quando? a arte cria conexões e vínculos que não são baseados em sangue, nacionalidade ou território. o plano é simples: imaginar futuros alternativos. a verdade é uma questão de imaginação e toda f(r)icção é metáfora…
[o que você está lendo é pura invenção, uma história que nunca ocorreu em lugar algum senão numa região ilocalizável: a imaginação do autor]
…dei dois passos para trás e continuo andando de costas enquanto o mundo corre sabe-se lá para onde. o mundo ruindo em crise. algo escapa pelos nossos dedos. me espera, perde a hora, vem, vem agora. a gente nunca sabe o que procura até esbarrar em alguma coisa…
…eu não fazia ideia de onde queria chegar, mas tinha certeza de que não queria dizer o que parecia estar dizendo. quando tudo entrar no ventre do tempo outra vez, o caos voltará, e o caos é onde a realidade é escrita…
Eclê Gomes é doutor em Nada, mestre em Soluções Imaginárias, Ator, Diretor, Dramaturgo e Poeta. Editor chefe, caotizador e colaborador na revista Terceyro Mundo.