O BRASILEIRO GOSTA?
Brasileiro gosta:
de sexo, de deus, de pinga e remelexo
gosta de ser do contra
gosta de palhaço bufão
gosta de temperos, das tais especiarias
gosta de quebrar regras
desconhece limites
gosta de bunda
gosta de enrolar a língua
gosta de malandragem
infelizmente também da bandidagem
gosta de dormir
gosta de contar segredos quando está pelado
gosta de tomar banho de mar
gosta de fingir ser tudo aquilo que nunca será
lambe a bunda dos EUA
brasileiro braseiro gosta de brasil com s
reconhece a força do tupi e todos os outros, a força dos bantos e todos os outros
gosta de poesia, mas não gosta de leitura
gosta de música, barulho e insolação
gosta de todos os seus gols fora
têm ojeriza e orgulho cego pelas suas câimbras, furúnculos e ínguas
brasil é vermelho esperança
mas também é vermelho sangue disfarçado de verde e amarelo
brasil é um pau mole e flácido na boca de políticos e religiosos retrógrados
brasil é uma buceta pingando, sorvendo todas as falhas de todas as partes fincadas e intensificadas desde 1500
brasil está para além de 1500, despertai-vos brasis!
brasil está para o mundo assim como o mundo está para as guerras
brasileiro gostaria de ter livre arbítrio para ser aquilo que não tolera
brasileiro ama curvas, volumes e ...
O BRASIL É MEU TERREIRO
O Brasil é meu terreiro
Por isso nele eu me manifesto
Nele ergo minha voz
Meu brado
Meu batuque
Meu berro
Meu machado
Meu escudo e espada
Meu arco e flecha
O Brasil é meu terreiro
Por isso nele eu me manifesto
Estou armado até os dentes com as armas de Jorge
Com a força das Ayabás
Com a coragem dos tupinambás
O Brasil é meu terreiro
Por isso eu nunca deixarei de me manifestar
O NÃO CORTE
Corto os dedos, os medos, os meios
Corto inteiros, certeiros, eiros, erros, incertos
Tudo eu corto mas não me deixo ser cortado
Corto o avesso, corto o acesso
Mas nunca, jamais corto meus versos, nem dilacero
Não poupo palavras
As lavro sem medo
Não poupo poesia
Mesmo que eu seja o próprio freguês
Da minha poesia sem freguesia
Meu sangue escorre do peito
E se fixa nos dedos, na boca, na língua
Na ponta do Gênesis, na lâmina da navalha
No após, no durante, no antes
Apocalipse
Um lapso na corte dos poetas que tudo cortam
Eu não corto o mim, o eu, o estou, o ser, o tudo, não corto o nada.
Brinco com as palavras feito jogar bola
Sem nunca ter jogado bola
Digito, que é o ato de imitar o escrever
Mas sou ator que mora no poeta
Depois de digitar escrevo.
Feito jogar bila sem dou limpo
Se esconder estando exposto
Errar a mira, mirar o corte, acertar o alvo
Não falar aquilo que nunca calo.
Ardo;
Não corto.
Escrevo.
Até criar:
Erros
Deus
E calos.
AXÉ (UNI-VOS POVOS DOS BRASIS)
Povos dos brasis
Uni-vos
Uni-vos
Brasis
Norte à Sul
Suor e sorte
Maria Quitéria
Dandara
Zumbi
E rei do cangaço
Uni-vos
Uni-vos
Brasis
Sem mais anos de chumbo
Com fortes nervos de aço
Revolução se faz com rosas, espinhos, cravos
Sem milícias, injustiças ou enclaves, conchavos
Revolução se faz com braços
Axé
Liberdade
Justiça
Fraternidade
Equidade
Para esse país
Axé
Liberdade
Luta
Folia
Fé
Felicidade
Por esse país
Tupã nos resgate a fé, a felicidade
De uma mãe gentil
Tupã nos resgate com o seu virá
Vamos à luta
Cabeça em pé
Vamos
Povos dos brasis
Uni-vos
Uni-vos
Brasis
Vamos
Andar com fé
Vamos à luta!
Esperançar e agir para o giro da gira!
Uni-vos povos do Brasil! Axé!
JABUTICABA POBRE MADE IN BRAZIL
O seu singular mora no plural
É absurda
Essa lógica
Tão sem lógica
Toda essa bosta
De papo impessoal
Sem intromissão
O que mais me enoja é essa isenção
Qualé?
Se posiciona
Toma partido
Compra a briga
Vira o jogo
Qualé?
Manda o papo sério
Sem metáforas
Sem etc e tal
Um papo reto
Poema em linha reta
Joga limpo
Joga na cara, na fuça, na lata
A verdade nua e crua
A realidade dessa pseudo alucinação
Nada aqui é fake
Chega de fake news
Chega de fake love
Chega de fake posição
Tome partido
Meta o pé e vá na fé
Assuma o B.O
Se situe da situação
Já deu esse lance tolo de isenção
Tome tenência
Acorda amor
Deus lhe pague
O tempo não para
E eu vou, você não?
Porque não?
Tem que dançar a dança
A equilibrista esperança
Sem titubear
Porque se bobear dançou
Vira vintage, retrô
O pau-de-arara
A câmara de gás
Tem que dançar a dança
Luta, sexo, amor
Nada disso pode acabar
Jabuticaba podre aqui não pode vingar!
Marcelo Nascimento, nascido e residindo em Fortaleza-CE. Graduando em Teatro pelo IFCE (Campus Fortaleza). Artista brasileiro, poeta, escritor, letrista, ator.